Saúde Mental e Ergonomia: Caminhos Cruzados

Nos últimos anos, o debate sobre saúde mental no trabalho ganhou força em meio a novas formas de organização laboral, intensificação de demandas e a presença cada vez maior da tecnologia.

Cleber Rocha

Por Cleber Rocha

21 Outubro 2025

Nos últimos anos, o debate sobre saúde mental no trabalho ganhou força em meio a novas formas de organização laboral, intensificação de demandas e a presença cada vez maior da tecnologia. Paralelamente, a ergonomia deixou de ser vista apenas como um campo voltado a ajustes físicos do posto de trabalho, para assumir uma dimensão holística, que envolve também fatores psicossociais, cognitivos e organizacionais.


Essa convergência entre saúde mental e ergonomia não é apenas desejável — é necessária. Ambas compartilham o mesmo objetivo: promover o bem-estar integral do trabalhador, assegurando condições que favoreçam desempenho, segurança e qualidade de vida.


Ergonomia além da postura: o olhar sobre o humano


Segundo a NR-17 e autores clássicos como Wisner (1994) e Iida & Guimarães (2016), a ergonomia busca adaptar o trabalho ao ser humano — e não o contrário. Isso implica compreender os limites físicos e também os aspectos mentais e emocionais que permeiam o trabalho.


Ambientes de alta pressão, metas inatingíveis, sobrecarga cognitiva e falta de autonomia são fatores que geram estresse, ansiedade e burnout, impactando diretamente o desempenho e a saúde.

Assim, o olhar ergonômico deve abranger as exigências mentais do trabalho, a clareza das tarefas, o ritmo imposto e a qualidade das pausas e recuperações.

 

Fatores psicossociais e sua relação com o adoecimento


Estudos da Organização Internacional do Trabalho (OIT, 2022) e da Organização Mundial da Saúde (OMS, 2022) apontam que os transtornos mentais relacionados ao trabalho estão entre as principais causas de afastamento laboral no mundo.


A ergonomia, especialmente por meio da análise da atividade real, permite identificar os fatores que contribuem para esse adoecimento:


  • Sobrecarga de informação e multitarefa constante;
  • Falta de controle sobre o trabalho;
  • Exigência de disponibilidade contínua;
  • Ambiguidade de papéis e metas;
  • Baixo reconhecimento e suporte social insuficiente.


Quando esses fatores se acumulam, criam um ambiente propício ao esgotamento emocional, comprometendo tanto a saúde do trabalhador quanto a eficiência organizacional.

 

Integração entre ergonomia e saúde mental


A solução passa por uma abordagem integrada, onde a ergonomia e a gestão de saúde mental atuam de forma complementar.


Algumas estratégias práticas incluem:


  • Projetar o trabalho considerando a carga cognitiva e os limites mentais;
  • Promover pausas ativas e momentos de recuperação psicológica;
  • Valorizar a autonomia e o reconhecimento nas tarefas;
  • Garantir comunicação clara e apoio entre equipes;
  • Desenvolver programas de escuta e acolhimento emocional.


Essas ações não apenas reduzem o risco de adoecimento, mas também fortalecem o engajamento, a criatividade e o sentimento de pertencimento.

 

Um novo paradigma para organizações saudáveis


Falar de ergonomia, hoje, é falar de qualidade de vida no trabalho. É reconhecer que o corpo e a mente são partes indissociáveis de um mesmo sistema.


Empresas que incorporam a ergonomia como valor estratégico não apenas reduzem acidentes e afastamentos, mas também constroem ambientes sustentáveis, onde as pessoas podem trabalhar com significado, equilíbrio e saúde.


A saúde mental e a ergonomia caminham lado a lado — e, quando bem alinhadas, tornam-se pilares de uma cultura organizacional mais humana, ética e produtiva.


Referências


  • IIDA, I.; GUIMARÃES, L. B. M. Ergonomia: projeto e produção. 3ª ed. São Paulo: Blucher, 2016.
  • WISNER, A. A inteligência no trabalho. São Paulo: Edusp, 1994.
  • OCCHIPINTI, E.; COLOMBINI, D. Work-related musculoskeletal disorders: definition, assessment and prevention. Elsevier, 2007.
  • OIT. Mental health at work: Policy brief. Genebra, 2022.
  • OMS. World mental health report: transforming mental health for all. Genebra, 2022.


Artigo produzido pelo Ergonomista Cleber Rocha, para mais conteúdos, acompanhe os blogs da Reliza.


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