Nem toda dor vem do peso que se carrega nas costas
Costumamos associar o cansaço e o adoecimento no trabalho ao trabalhador sujo, ao suor e ao esforço físico visível. É comum ouvirmos frases como "trabalhar de verdade é colocar a mão na massa". Mas essa é uma analogia perigosa — e ultrapassada.
12 Agosto 2025
Me responda sinceramente.
Quando você associa o cansaço e o adoecimento no trabalho, à que tipo de trabalho você está associando?
Costumamos associar o cansaço e o adoecimento no trabalho ao trabalhador sujo, ao suor e ao esforço físico visível. É comum ouvirmos frases como "trabalhar de verdade é colocar a mão na massa". Mas essa é uma analogia perigosa — e ultrapassada.
Ao final do expediente, um pedreiro exausto, com o rosto suado, as roupas cobertas de poeira e as mãos sujas, carrega nas costas o peso de um trabalho fisicamente desgastante. Ao seu lado, um operador de caixa de supermercado, aparentemente "limpo", talvez sem suar, mas com os ombros tensionados, dores nas pernas e pés, estressado e emocional esgotado, representa uma outra realidade: a do adoecimento silencioso.
A carga de trabalho nem sempre é visível. O esforço mental excessivo na resolução de problemas imprevistos, a pressão para não deixar a fila aumentar, a vigilância contínua para não dar um troco errado, a exigência de cordialidade mesmo sob exposição de clientes desagradáveis, a ausência de pausas, a repetição mecânica e a escassez de reconhecimento, compõem o dia a dia de milhares de trabalhadores em funções com baixo impacto físico, mas alta demanda cognitiva e psicossocial.
A Ergonomia — enquanto ciência que busca compreender o trabalho para adaptá-lo ao trabalhador — já não se limita apenas a ajustes físicos nos postos de trabalho. Ela abrange também os fatores mentais e organizacionais, compreendendo que a saúde do trabalhador é influenciada por múltiplos aspectos: carga mental, relações interpessoais, tempo de recuperação, previsibilidade de tarefas e, principalmente, a forma como o trabalho está estruturado e organizado.
É hora de quebrar paradigmas.
Nem todo trabalho que adoece deixa marcas visíveis no corpo.
Nem toda dor é física.
Nem todo cansaço vem do suor.
Que possamos ampliar nosso olhar e valorizar a complexidade de cada função — com empatia, ciência e responsabilidade. Afinal, como dizia Falzon, toda vez que o trabalhador tiver que interagir com o trabalho, vai haver uma mobilização física, cognitiva, psíquica e social.
Artigo produzido pelo Ergonomista Felipe Alledi de Souza. Para mais conteúdos, acompanhe os blogs da Reliza.
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