Ergonomia e Fatores Psicossociais Relacionados ao Trabalho: entre o cuidado humano e as exigências normativas

Durante muito tempo, quando se falava em ergonomia, pensava-se apenas em cadeiras ajustáveis, mesas na altura certa e pausas para evitar dores musculares.

Cleber Rocha

Por Cleber Rocha

20 Novembro 2025

Ergonomia e Fatores Psicossociais Relacionados ao Trabalho: entre o cuidado humano e as exigências normativas

Um novo olhar sobre o bem-estar e a produtividade nas organizações


Durante muito tempo, quando se falava em ergonomia, pensava-se apenas em cadeiras ajustáveis, mesas na altura certa e pausas para evitar dores musculares.

Mas a ergonomia moderna vai muito além disso. Hoje, entende-se que o trabalho envolve aspectos físicos, cognitivos e emocionais, e que todos eles influenciam diretamente a saúde, a segurança e o desempenho das pessoas.


Essa abordagem mais ampla inclui o estudo dos fatores psicossociais — ou seja, as condições organizacionais, relacionais e mentais que podem impactar o bem-estar do trabalhador. Entre eles estão o estresse, a carga mental, a pressão por resultados, as relações interpessoais e a própria forma como o trabalho é organizado.

 

Ergonomia e fatores psicossociais: uma relação indissociável


A ergonomia busca adaptar o trabalho às características do ser humano.

Isso significa não apenas ajustar o mobiliário, mas também analisar o modo como as tarefas são estruturadas, as exigências cognitivas envolvidas e as interações sociais no ambiente laboral.


Diversos estudos apontam que o excesso de demandas mentais, a falta de controle sobre o próprio trabalho e os conflitos interpessoais estão entre as principais causas de adoecimento ocupacional, absenteísmo e queda de produtividade.


Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), os riscos psicossociais incluem qualquer aspecto do desenho, da gestão ou do contexto do trabalho que possa gerar estresse e comprometer a saúde física e mental dos trabalhadores.


De forma semelhante, a ISO 45003:2021 — norma internacional sobre saúde psicológica e segurança no trabalho — reconhece que a gestão adequada desses fatores é parte essencial da prevenção de riscos ocupacionais.

 

O que dizem as normas brasileiras


No Brasil, o tema também ganhou reforço normativo.


A NR-01, atualizada pelo Ministério do Trabalho, estabelece que a partir de maio de 2026, as empresas devem adotar um sistema de gerenciamento de riscos ocupacionais, contemplando todas as naturezas de riscos — inclusive os psicossociais e mentais.

Isso significa que fatores como estresse, sobrecarga, conflitos e assédio devem ser formalmente identificados, avaliados e controlados.


Já a NR-17 (Ergonomia) reforça a necessidade de ajustar o trabalho às condições psicofisiológicas das pessoas.

Seu texto aborda não apenas o conforto físico, mas também questões ligadas à organização do trabalho, ao ritmo de execução das tarefas e às condições cognitivas e emocionais necessárias para o bom desempenho.

Essas duas normas — quando aplicadas de forma integrada — fortalecem a visão de que cuidar da ergonomia é também cuidar da saúde mental e do clima organizacional.

 

Reflexão: um desafio para as empresas e para a cultura de gestão


Falar de fatores psicossociais é tocar em um ponto sensível das organizações: a forma como o trabalho é estruturado.

Nem sempre é fácil equilibrar produtividade e bem-estar, especialmente em ambientes onde metas, pressões e prazos são constantes.


Mas ignorar esses aspectos pode custar caro. O adoecimento psicológico no trabalho é uma das principais causas de afastamento e rotatividade.

Além disso, trabalhadores sobrecarregados cometem mais erros, sofrem mais acidentes e apresentam menor engajamento.


A boa notícia é que o cuidado com a saúde psicossocial não se opõe ao desempenho — ao contrário, é o que o sustenta.

Ambientes saudáveis tendem a ser mais produtivos, inovadores e sustentáveis. O grande desafio está em transformar esse entendimento em prática cotidiana.

 

Como colocar em prática: caminhos possíveis


  1. Ouvir os trabalhadores
  2. Na AEP e/ou AET, realizar entrevistas, pesquisas e grupos de diálogo para compreender a realidade vivida nas equipes.
  3. Revisar a organização do trabalho
  4. Na AEP e/ou AET, avaliar metas, pausas, ritmos e fluxos de tarefas. Pequenos ajustes podem ter grande impacto na redução da sobrecarga mental.
  5. Mapear riscos psicossociais
  6. Baseado na AEP e/ou AET, incluir no inventário de riscos (previsto na NR-01) fatores como carga mental, pressão de tempo, conflitos de função, falta de autonomia e suporte social insuficiente.
  7. Capacitar lideranças
  8. Gestores têm papel central no reconhecimento de sinais de estresse e na criação de um ambiente de confiança e apoio.
  9. Integrar ergonomia e saúde mental
  10. Projetos ergonômicos devem considerar também aspectos cognitivos e emocionais, além dos físicos.
  11. Adotar boas práticas internacionais
  12. Normas como a ISO 45003 oferecem diretrizes para implantar um sistema de gestão da saúde psicológica no trabalho, podendo complementar as exigências da NR-01 e da NR-17.

 

Um olhar para o futuro


As transformações tecnológicas, o trabalho remoto e as novas formas de gestão tornam o tema ainda mais relevante.

Cada vez mais, a ergonomia precisa dialogar com a psicologia, a sociologia e a gestão de pessoas, construindo soluções integradas que valorizem o trabalhador como ser humano completo.


O futuro do trabalho exige empresas que saibam equilibrar desempenho, saúde e propósito.

E a ergonomia — entendida em sua dimensão física, cognitiva e social — é uma das ferramentas mais poderosas para alcançar esse equilíbrio.

 

Referências


  • Ministério do Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora nº 01 – Disposições Gerais e Gerenciamento de Riscos (atualização 2025).
  • Ministério do Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora nº 17 – Ergonomia.
  • ISO (International Organization for Standardization). ISO 45003:2021 – Psychological health and safety at work – Guidelines for managing psychosocial risks.
  • Organização Internacional do Trabalho (OIT). Psychosocial risks and stress at work: a collective challenge.

 

Reflexão final:


Cuidar da ergonomia é cuidar de pessoas — e cuidar de pessoas é investir na sustentabilidade do trabalho.

A verdadeira produtividade nasce quando o ambiente favorece a saúde, o diálogo e o equilíbrio entre corpo, mente e organização.


Artigo produzido pelo Ergonomista Cleber Rocha, para mais conteúdos, acompanhe os blogs da Reliza.


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